E COMO MAI!

Este é o blog de Alex Correa e foi criado essencialmente como um centro de acesso aos trabalhos já publicados na lingua portuguesa, forma original.


Saturday, March 12, 2011

Rocha viva artificial: construção e uso VII

Texto e fotos por Alex Correa.

Anteriormente foram colocados os pontos: ecológicos, de materiais para a confecção, relevo, construção prática, e povoamento. Essa é a última parte da série de artigos sobre rochas vivas artificiais, apresentando a continuação do estudo sobre povoamento das mesmas, com o cultivo de algas coralinas encrustantes e aditivos, quando necessário.

Colocar as rochas em água salgada com circulação abundante e skimmer auxília bastante na adaptação das rochas artificiais ao ambiente marinho. A foto mostra rochas em aquário display com água marinha, já com o substrato de fundo. Após 30 dias o sistema está pronto para a introdução dos primeiros invertebrados e peixes.

Algas coralinas necessitam de iôdo (I), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e estrôncio (Sr) diluídos em quantidades amenas na água, disponíveis para que haja um crescimento sadio e constante. Um excesso de tais elementos irá causar muitas das vezes um desequilíbrio que se transforma em perda da estabilidade química da água. O aquarista precisa lembrar que normalmente durante esse período inicial ainda não existe uma quantidade grande de algas coralinas e nem de corais no sistema, assim exigindo praticamente nenhuma necessidade desses elementos artificiais serem adicionados. Quando não há necessidade, a adição é na verdade um excesso, automaticamente.

O emprego de carvão ativado auxilia o crescimento de algas coralinas com a retirada de vários tipos de compostos e nutrientes presentes na água, deixando assim que os aditivos (que também podem ser adsorvidos pelo carvão) possam agir, antes de serem exportados. Carvão precisa ser trocado freqüentemente, porque após certo período de tempo alcança a saturação, servindo apenas como superfície para povoamento bacterial e acumulação de detritos. Em alguns casos, se o carvão saturado for deixado muito tempo no sistema, pode acontecer o retorno desses nutrientes à água. O período de tempo necessário para ser substituído varia, dependendo do sistema marinho. O uso de pequenas quantidades trocando 100% de 15 em 15 dias pode ser uma das melhores opções. O princípio dessas recomendações está relacionado somente no que diz respeito ao crescimento e manutenção de algas coralinas incrustantes. O aquarista precisa ter um bom senso para determinar se o sistema está sendo prejudicado com o uso constante ou de maneira excessiva. Carvão ativado também contribui para a claridade da água, retirando fenóis e outros componentes, que tornam a água amarelada, alterando as qualidades iluminativas.

Presença de um skimmer é também importante para o desenvolvimento das coralinas. Através da exportação de excessos de fosfatos e outros componentes orgânicos dissolvidos, possibilita melhor ambiente, diminuindo a população de algas indesejáveis e proporcionando luz adequada para o aquário, com a exportação de nutrientes, compostos amarelados e micro-algas presentes na água.

Vários elementos necessários para o crescimento das coralinas incrustantes precisam estar presentes para o melhor desenvolvimento e reprodução dessas algas. Alguns desses elementos já estão disponíveis em sistemas onde já existe uma dissolução natural dos mesmos, como por exemplo em aquários contendo substrato de fundo calcário. O material que melhor auxilia o aquarista dessa forma é sem dúvida a areia de aragonita, que além de ajudar a manter a reserva alcalina em níveis favoráveis, também contém 3 dos principais elementos citados anteriormente (Ca, Mg, Sr). A reserva alcalina de no mínimo 8 dKH (2.9 meq/L) é recomendada para as algas coralinas. Em sistemas recifais fechados pode-se manter esses valores entre 7 e 10 dKH (2.5 à 3.5 meq/L). Água marinha apresenta os valores entre 6 e 7 dKH (2.1 à 2.5 meq/L). Na maioria dos casos, dependendo do tamanho do aquário e quantidade de rochas, não é necessário que exista nenhum tipo de dosagem de cálcio até que a população de algas coralinas aumente consideravelmente ou a de corais duros, mantidos com as mesmas. A temperatura entre 24°C e 26°C é favorável.

Iôdo:
Em aquários com população notável e já estabilizada de algas coralinas a dosagem de iôdo por exemplo (na forma de iodeto de potássio na concentração de 800mg/L) pode ser de 5ml para cada 200L duas vezes por semana. A forma de iôdo livre é tóxica como o cloro e nunca deveria ser utilizada em aquários, portanto deve ser introduzido na água como iodeto de potássio. Iôdo é utilizado por todos os tipos de algas em diferentes taxas de aproveitamento e logicamente o excesso pode acarretar em uma explosão de algas indesejáveis num sistema marinho fechado. Além de sofrer precipitação, o skimmer também irá exportar iôdo da água.

Estrôncio:
Como manutenção, também a dosagem de estrôncio (concentração de 10.000 m/L), pode ser administrada na ordem de 5 ml para cada 80L de água no sistema uma ou dua vezes por semana, de acordo com a necessidade. Os níveis do elemento na água marinha normalmente varia de 8 à 10 mg/L. Cloreto de estrôncio ou outro produto de forma iônica normalmente altera o pH, esgota a reserva alcalina, além de precipitar fora da solução.

O início do surgimento de algas coralinas incrustantes sobre as rochas artificiais é sempre gratificante para o aquarista. Espécies com cores diferentes proporcionam um visual natural e atraente. Início de estabilização de algas coralinas em um sistema cujo relevo contém somente rochas vivas artificiais.

Cálcio:
Cálcio pode ser administrado de duas maneiras: Na forma de mistura de carbonato de cálcio - Ca(OH)2 (kalkwasser) ou / e na forma de cloreto de cálcio - CaCl2 . A mistura de kalkwasser é usada de maneira cristalina, descartando o produto em excesso que descança no fundo do recipiente de mistura após 12 horas. Duas colheres de chá para cada 4 litros de água é o suficiente para que haja uma quantidade aceitável na concentração de íons de cálcio. Solução precisa ser introduzida no aquário durante a noite, enquanto não ocorre fotossíntese e por isso o pH do sistema tende a cair. Dessa maneira, a dosagem de kalwasser também auxilia para que haja mínima oscilação no pH. Aplicação de reator de kalkwasser ou reator de cálcio com média calcária e CO2 é desnecessária, a não ser que além das coralinas incrustantes o sistema também apresente quantidade considerável de corais pétreos. O julgamento de tal prática requer bom senso do aquarista.

O emprego do CaCl2 pode ser visto como auxiliar na dosagem do cálcio, como por exemplo sendo usado se for necessário aumentar a concentração de cálcio rapidamente. O cloreto acumula no sistema com o tempo e a necessidade de trocas de água é maior que a normal, principalmente quando o aquarista usa somente CaCl2 como única suplementação de cálcio, por isso não deve ser utilizado como fonte de cálcio primária, e sim auxiliar. A adição recomendável é feita na proporção de 5mL para cada 80L de água do sistema uma ou duas vezes por semana, quando kalkwasser não é administrada. A porção de 5 mL pode aumentar cálcio até em 3mg/L. Em condições normais e correta de dosagem de kalkwasser não é absolutamente necessário o uso de CaCl2. Nível almejado de íons de Ca num aquário marinho de recife é normalmente de 380 mg/L.

Trocas parciais de água na maioria das vezes já são suficientes na manutenção dos níveis de magnésio em aquários marinhos. Sistema experimental de aproximadamente 285 litros contendo somente rochas vivas artificiais na formação do relevo.

Magnésio:
A presença de magnésio é muitas das vezes ignorada pelos aquaristas, que dá atenção somente aos níveis de cálcio e estrôncio, cometendo um engano. Na verdade, magnésio é um dos íons mais presentes na água marinha, assim como sódio e cloreto. Cálcio, estrôncio e magnésio são bem similares quimicamente, e de importante papel na calcificação. Em algas coralinas incrustantes magnésio pode representar de 1% à 4.4% por peso de estrutura. Em esqueletos de corais a taxa de magnésio encontrada varia de 0.1% à 3.5%, logicamente dependendo das espécies e fatores ambientais.

Produtos suplementares apresentando combinação de sais de magnésio, cloreto e sulfato, são especialmente formulados para gerar mínimo impacto nas taxas iônicas encontradas na água marinha. Tais produtos em sua forma seca não contêem amônia, como os produtos encontrados na forma líquida. A porção indicada para tal tipo de aditivo é de uma colher de chá para cada 80L diluídos primeiramente num copo de água doce, a ser adicionado ao sistema uma ou duas vezes por semana. Existem fórmulas práticas para calcularmos a quantidade desses tipos de produtos a ser usada. Pelo fato de todo produto apresentar concentrações diferentes dos sais citados, é necessário sabermos por certo, para que os cálculos venham realmente resultar em valores verdadeiros. Estudo da bula acompanhante do produto é importante para composição e posologia. Dosagem precisa ser feita gradativamente.

Excesso de magnésio pode intensificar a perda de alcalinidade de carbonatos (reserva alcalina), portanto deve ser administrado com muito cuidado, além disso, não deve ser usado com nenhum suplemento de carbonatos, pois certamente ocorrerá precipitação. Melhor seria, se realmente necessário, o aquarista utilizar tais produtos com intervalos de 24 horas (dias alternados).

Quando os níveis de magnésio se esgotam (menos de 800 mg/L), pode acontecer a depressão do pH, logo afetando a habilidade dos níveis de cálcio. Isso ocorre normalmente com freqüentes doses excessivas de kalkwasser ou até com níveis baixos de Mg presentes nos sais sintéticos.
Kalkwasser, primeiramente, precipita magnésio como hidróxido de magnésio, e o excesso de carbonatos precipita na forma de carbonato de magnésio. Nos dois casos, é fato que o magnésio, antes dissolvido na água, não está mais disponível para os organismos. Hidróxido de magnésio não redissolve-se na água. Carbonato de magnésio pode redissolver-se lentamente, mas ainda haverá então um significante espaço de tempo com a taxa dos níveis de magnésio esgotados.

Atenção: troca parcial de água natural ou artificial é uma maneira simples, segura e rápida para administrarmos os níveis de magnésio em aquários marinhos. Com isso, o aquarista não precisa do uso de produtos para a adição do elemento, evitando assim riscos desnecessários para os organismos do sistema.

Testes de cálcio, dureza e magnésio estão entre os mais importantes quando planejamos manter os parâmetros da água favoráveis aos crescimento de algas coralinas incrustantes.

Mais dicas:
Outros aditivos auxiliares que foram observados no auxílio do crescimento de algas coralinas são os elementos traços, amino ácidos, vitamina B1, vitamina B12, vitamina C, inositol, dentre outros. Existem provavelmente muitos outros minerais e compostos que possam servir de grande auxílio em nossos aquários de recife, e que infelizmente ainda não foram cientificamente identificados como tais.

Todos os tipos de aditivos precisam estar sendo dosados conscientemente, de acordo com as necessidades, para evitar desequilíbrio iônico no sistema marinho. O aquarista iniciante necessita entender primeiramente como isso funciona para que com tempo venha a manter uma rotina com o sistema, pois todo aquário requer sua própria demanda de cada tipo de aditivo, sendo que a dosagem necessária também é alterada conforme a demanda dos ajustes do sistema, com o amadurecimento e conseqüente crescimento dos organismos.

Os testes químicos para sabermos a taxa de cada elemento diluído na água marinha precisam ser feitos para que o aquarista realmente saiba quais e quantos dos aditivos devem ser aplicados. Testes de reação química apresentam período de validade, perdendo assim suas habilidades de registro apurado após a data prevista. Trocas de água constantes com sais sintéticos de boa qualidade podem suprir grande parte das necessidades de algas coralinas incrustantes anteriormente comentadas, diminuindo ainda mais o uso de aditivos de magnésio e outros, assim como água natural, dependendo de onde coletada.

Portanto um cuidado na administração total dos aditivos num sistema de reef deve ser enfatizado. O fato do não surgimento de algas coralinas pode não estar diretamente ligado à falta de nenhum dos tipos de elementos necessários para o crescimento sadio dessas algas. As dosagens devem ser mínimas, se necessárias, principalmente no começo da estabilização do aquário. Dosagens de aditivos deveriam ser planejadas para suprir reposição e nunca para produzir excesso de disponibilidade dos mesmos.

Sistema experimental (285L.) contendo 100% do relevo formado por rochas vivas artificiais durante o surgimento e estabilização inicial de algas coralinas incrustantes.

Conclusão:
A definição de rochas vivas é basicamente: material calcário de origem marinha, contendo vida marinha de diversas formas. Sabendo disso, quando estamos decididos a fabricar rochas vivas artificiais devemos focalizar nessas qualidades para que tenhamos melhores resultados com o projeto. Portanto quanto maior for a quantidade de material calcário natural na estrutura, melhor será a rocha.

O planejamento do relevo precisa ser feito depois de decidirmos quais organismos pretendemos manter, com o objetivo de acomodá-los da melhor forma, oferecendo conforto e espaço para as habilidades naturais de cada um deles. O relevo também precisa seguir um controle de espaço, com o planejamento de acordo com o crescimento de tais organismos.

A curtidura da rocha simplesmente significa que a mesma cessou de exportar kalkwasser e outras substâncias, como por exemplo componentes de silicone. O valor do pH da água é a principal ferramenta para ajudar o aquarista durante esse período, que pode ser seguramente de 60 dias em água doce e trocas completas de no mínimo 2 em 2 dias, ou de preferência todos os dias, com rochas feitas convencionalmente.

Tenha em mente que após o “processo de curtidura” das rochas ainda haverá naturalmente uma adaptação químico, física e biológica do sistema marinho onde as rochas farão parte do relevo na água salgada. Isso significa que o aquarista precisa dar uma atenção maior ao aquário principalmente nos primeiros meses dessa adaptação. Iluminação controlada evitará explosão de algas indesejáveis. Trocas parciais semanais de água em torno de no mínimo 10% (quanto maior a quantidade, melhor) do volume total do sistema são recomendadas durante esse período. Um bom senso do aquarista é necessário para determinar o tempo de tal período de adaptação, uma vez que cada sistema apresentará suas qualidades individuais. Logicamente que organismos marinhos mais sensíveis deverão ser intruduzidos no sistema após o ciclo de algas e pH estiverem completamente estabilizados, como em todo tipo de sistema marinho.

Com o tempo, novas técnicas surgirão para a confecção de rochas artificiais. Essa iniciativa nos leva a colocarmos o aquarismo marinho, principalmente a ramificação de reef tanks, numa posição superior. Não esqueça de divertir-se com a fabricação e montagem do seu aquário de reef artificial. Afinal de contas, o nosso hobby é tido como um dos mais relaxantes e únicos que existe. <><

Referências:
Associação Brasileira de Cimento Portland
http://www.abcp.org.br/home.shtml
Cement and concrete basics:
http://www.cement.org/basics/concretebasics_curing.asp
Guide for curing of Portland cement concrete pavements, Volume I:
http://www.fhwa.dot.gov/pavement/pccp/pubs/02099/02099.pdf
Curing concrete:
http://www.tkproduct.com/Curing%20Concrete.PDF
Tampa Bay Salwater:
http://www.tampabaysaltwater.com/index.html
Pacific Aqua Farms:
http://www.pacificaquafarms.com/AboutPAF.htm
Tom Miller: Reef propagation Project: The complete cookbook for making live rock from cement and other types of rock: http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Hangar/6279/RaiseCementRock.html
Geothermal Aquaculture Research Foundation:
Making an aragocrate™ arch cave, with Eddie Postma.
http://www.garf.org/MPegs/AragocreteArch.html
Randy Holmes-Farley, Ph.D.: Magnesium and strontium in limewater:
http://www.advancedaquarist.com/issues/dec2003/chem.htm
Randy Holmes-Farley, Ph.D.: Magnesium in reef aquaria:
http://www.advancedaquarist.com/issues/oct2003/chem.htm
Filtration basics:
http://reefkeeping.com/issues/2002-06/dw/index.php
Correa A. (1.999) Algas I: http://reefiofilianet.blogspot.com/2009/02/algas-i.html
Correa A. (1.999) Algas II: http://reefiofilianet.blogspot.com/2009/02/algas-ii-na-parte-i-foi-explicado.html
Correa A. (2.000): Rochas vivas no aquarismo e mais: http://reefiofilianet.blogspot.com/2009/02/rochas-vivas-no-aquarismo-e-mais.html
Delbeek. C. & J. Sprung (1994): The Reef Aquarium. Ricordea Publication, Miami, Florida, USA.
Delbeek. C. & J. Sprung (1997): The Reef Aquarium, Vol. 2. Ricordea Publication, Miami, Florida, USA.
Delbeek. C. & J. Sprung (2005): The Reef Aquarium, Vol. 3. Ricordea Publication, Miami, Florida, USA.
Cato C. James (2003): Marine Ornamental Spieces: Collection, Culture and Conservation. Balogh International Inc., Champaign, Illinois, USA.
Tissot, B.N. and L.E. Hallacher, 2003. Effects of aquarium collectors in Hawaiian coral reefs fishes in Kona, Hawaii. Conservation biology 17:1759-1768.
Shepherd A.R. Dawson, 1977. Marine Aquarist, volume 7, number 10. Collected in the Philippines.Marine Aquarist Publications, Inc, Boston, MA, USA.

© Copyright 2009 Alex Correa.