E COMO MAI!

Este é o blog de Alex Correa e foi criado essencialmente como um centro de acesso aos trabalhos já publicados na lingua portuguesa, forma original.


Monday, March 7, 2011

Sistema Jaubert II

Continuando…

O transporte da areia viva, principalmente quando coletada na natureza, deve ser feito com cuidado e bastante aeração, de preferência feita com pedra difusora de ar. Quanto menos volume de areia por volume de água em movimento, melhor. Se houver a possibilidade de transporte em poucos minutos, pode-se encher um balde com a areia viva contendo água do mesmo local da coleta, cobrindo somente alguns centímetros acima da areia. Esse procedimento vale para transporte em menos de uma hora e em pequenos volumes de areia. Se houver muita compressa na areia durante o transporte, com o peso, a maioria dos organismos morrerão e a qualidade da areia será muito prejudicada, principalmente no fundo. É dessa maneira que normalmente se transporta a areia viva comercializada para o hobby, pois praticamente falando é a maneira mais conveniente para todos. Quando grandes quantidades dessa areia são manuseadas, um processo de aclimatização é necessário, de preferência com o uso de um bom skimmer. Perda de alguns organismos a cada transporte de areia viva é inevitável e por isso existirá caimento na qualidade da água do sistema em que essa será introduzida.


A foto mostra uma montagem do Sistema de Jaubert típica nos E.U.A. Note os tubos de PVC sustentando o egg crate e a tela de mosquito de plástico. Nessa montagem não foi usada a tela de separação para que os organismos não atingissem as áreas destinadas à desnitrificação. Uma seleção dos peixes e invertebrados precisa ser levada em conta nesse caso. O Plenum necessita de cobertura (ex: cartolina), evitando que pelo menos a luz externa penetre, causando possíveis problemas. Cascalho de coral foi usado como substrato, funcionando perfeitamente. Depois de muitos meses de montado o sistema desenvolveu uma enorme quantidade de vida no substrato com os níveis de nitrato bastante satisfatórios. Foto: Alex Correa.

Sempre devemos evitar de colocar tanto areia viva quanto rochas vivas não curadas em aquários já estabilizados contendo peixes e/ou invertebrados. Isso significa que todas as aquisições feitas de qualquer desses substratos deverão estar muito bem equilibrados com um sistema de quarentena (para curar esse substrato), montados especialmente para os mesmos. O início desse equilíbrio será marcado quando pelo menos os níveis de amônia e nitrito estiverem iguais à zero, com a água sem cheiro ruím. Aquaristas perdem exemplares de organismos à toda hora por descuidos referentes à essa observação básica e tão importante. O aquário (pode ser qualquer recipiente compatível) de quarentena para se curar tais substratos não requerem muitos pormenores. A montagem do mesmo pode ser feita em qualquer tamanho (quanto maior melhor) e com circulação abundante, sem iluminação artificial, ou luz natural forte, nem raios solares atingindo o mesmo. Trocas de água aceleram o processo de curar, mas devem ser administrados somente após a primeira semana para não interferir no processo de transformação bio-química. Um skimmer pode ser colocado no tanque após os 3 primeiros dias do começo do processo para amenizar um pouco o cheiro desagradável que ocorre em certas ocasiões. Se as condições do substrato de fundo (e/ ou rocha viva) à serem tratados não são das melhores (ex: partes extremamente danificadas ou pequenos círculos com odor forte, por exemplo), o skimmer pode ser colocado desde o momento em que se começa a quarentena. Todos os organismos mortos deverão ser descartados. Carvão ativado de boa qualidade também pode ser usado para ajudar um pouco, mas deve ser posto em prática após alguns dias, depois do skimmer entrar em ação retirando o excesso, pois o carvão se exausta muito rapidamente com o grande número de compostos orgânicos dissolvidos à serem retirados da água.
Retirada de detritos mecanicamente, com auxílio de uma mangueira de borracha (sifonação), também é aconselhável para uma ajuda na exportação do excesso de impurezas e material em decomposição, principalmente quando estamos nos referindo às rochas vivas (macro-algas, invertebrados mortos, etc.).

Alguns fazem esse tipo de quarentena de forma a trocar água constantemente. Na prática, gastasse muito sal sintético dessa maneira, tornando-se caro e sem necessidade. Quando água natural é usada para substituir o sal sintético nessas trocas de água sucessivas existe um retardo mínimo no processo por causa de matérias que são introduzidas do mar, como por exemplo organismos que morrem ou mesmo nutrientes e detritos, logo não fazendo sentido essa prática. De fato, fazendo trocas de água constantes no começo irá exportar grande parte do que é produzido (amônia e nitrito) e aproveitado pelas bactérias benéficas ao amadurecimento, e isso poderá retardar bastante o processo como um todo, necessitando cada vez mais trocas para se chegar a um equilíbrio. Algumas vezes leva-se bastante tempo para que haja esse equilíbrio em nossos sistemas, que é marcado principalmente pelo desaparecimento da explosão inicial de algas diatomáceas e filamentosas. Isso é normal e ao meu ver deve ser encarado pelo aquarista como o principal aliado (o tempo) para o sucesso no futuro.

O plenum, com sua massa de água, permite que haja uma “atração” de oxigênio das partessuperiores do substrato. Isso ocorre muito lentamente (difusão). Dessa maneira a água presente no Plenum retém uma pequenina reserva de oxigênio e nitrato para enfatizar a ação biológica nas camadas mais profundas do substrato. Porque precisamos dessa reserva? Para que não haja uma formação de áreas anaeróbias (completamente sem oxigênio), como conseqüência ajudando a vida presente no substrato à exercerem suas funções apropriadamente. Essa vida no substrato irá prevenir que haja qualquer formação de produtos perigosos com sulfureto de hidrogênio, além de transformar parte do nitrato presente em gases menos tóxicos. Além disso, dependendo do sistema, habitantes, e do tipo de substrato, existe uma liberação de cálcio e até mesmo alguma ajuda no controle da reserva alcalina. A área do plenum não precisa ocupar obrigatoriamente toda a base do aquário, embora seja o ideal, mas sim pelo menos 2/3 da área do fundo.
O plenum apresenta melhores resultados quando mantido em ambiente escuro, prevenindo que haja o crescimento de micro-algas e cianobactérias. Aquaristas normalmente reportam deficiência, ou melhor, dificuldade de eliminação total de nitratos do sistema, quando o plenum vem a ser iluminado por qualquer motivo. Provavelmente isso acontece pelo desenvolvimento desses organismos fotossintetizantes, dentre outros fatores mais.
Ultimamente aquaristas procuram construir os sistemas desnitrificadores de fundo sem Plenum, afirmando que existe o acumulo de nutrientes no mesmo, como: nitrato, fosfato e principalmente silicato. Pouca informação concreta à respeito é esclarecida e provavelmente isso não ocorre em todos os sistemas montados com Plenum, podendo haver variações em diferentes aspéctos para diferentes montagens.

Aquários contendo sitemas desnitrificadores de fundo com e sem plenum montados e mantidos corretamente funcionarão perfeitamente e poucas diferenças serão notadas nos resultados. Riscos são um pouco maiores quando sem plenum, pelo simples fato de que existe uma ausência total de oxigênio e a formação de toxínas poderão não entrar num ciclo de transformações, sendo possivelmente perigosas aos habitantes quando em quantidades excessivas. Poucos são os aquaristas que reportam maiores problemas, porém. A quantidade de organismos presentes no substrato é importantíssima para que esses sistemas proliferem e possa haver um “controle” de formações excessivas desseas toxínas.

A circulação do aquário contendo um Sistema de Jaubert é importantíssimo. A coluna d’água próxima ao fundo deve apresentar uma corrente bem amena. Isso é essencial para uma mínima ajuda na penetração suave da água localizada acima do substrato de fundo em direção à área do plenum (essa penetração acontece de forma mínima e naturalmente, mas nunca deve ser estimulada em nenhuma forma. Isso também irá depender de uma série de fatores relacionados como: granulometria do substrato, tipo de substrato e outros fatores particulares do sistema. Isso é inevitável que aconteça, pois aquários de reef precisam de circulação para que os organismos possam florescer. Uma ótima circulação em aquários de reef não pode ser evitada). Uma agitação violenta no aquário, porém, poderá acelerar bastante o processo dessa troca de água de maneira à impedir que existam suficientes áreas de desnitrificação para suprir a demanda da utilização do nitrato. Logicamente estou me referindo à substratos que estejam sendo movidos fisicamente por água em movimento ou mesmo por alguns peixes. Uma maneira prática de conseguir o equilíbrio da circulação é conservar o movimento vindo das bombas e powerheads, direcionando-as à parte média-superior do aquário, ou seja, a parte dos 2/3 de cima da área visual do mesmo. Assim, nem mesmo os fortes jatos das Surge Devices irão causar danos ao Sistema de Jaubert.
Outro aspécto referente à circulação, e que influencia muito no desempenho do filtro, é a colocação das rochas. Quanto menos rochas estiverem cobrindo a área da superfície do substrato de fundo, melhor a ação do Sistema de Jaubert e melhores os resultados na eliminação de nitrato e dissolução do cálcio do substrato. O ideal de 75% do substrato livre é aconselhado por Dr. Jaubert. Não é necessário que se eleve as rochas com tubos de PVC, como alguns recomendam, mas sim, evitar a aglomeração das mesmas. O uso de rochas fortes e pequenas na base, suportando as de maior porte, mais porosas (leves) é um meio seguro e natualmente estético de solucionarmos esse pequeno problema. Mais uma dica sobre as rochas, evite curá-las no aquário display. Curar as rochas primeiro, como descrito anteriormente, e depois montar o aquário principal é a melhor maneira de não “supercarregar” o Sistema Jaubert com detritos e material orgânico no começo do processo de amadurecimento do sistema, que por sinal poderão prejudicar o bom andamento do processo inicial de povoamento do substrato de fundo, dependendo da quantidade desse material presente.

No sistema desenvolvido pelo professor Jaubert, teoricamente falando, poucas trocas de água natural eram feitas (nos do Aquarium de Monaco alguns dos sistemas são mantidos semi-abertos, com pequenas quantidades constantes de trocas de água natural) e o uso do skimmer não era aplicado nesse sistema na época. A circulação do aquário era primária, feita através de difusores de ar e poucas bombas, para que houvesse apenas uma distribuição amena dessa circulação. Nos últimos anos, depois de aprimorarmos e experimentarmos melhor esse método de filtragem sabemos que o uso de um bom skimmer está em uma das prioridades para podermos manter os habitantes dos nossos tanques de acordo com as necessidades básicas de mantimento num sistema fechado, sendo assim um dos principais aliados ao Sistema de Jaubert em um longo prazo. Além disso, as trocas parciais mensais também são importantes e ajudam a exportar grande parte das impurezas presentes no sistema, além de repor muitos dos mais importantes elementos absorvidos pelos animais e algas calcáreas, como comentei anteriormente.

Com essa evolução, nos EUA, existe atualmente o que se chama de “Sistema Natural Euro-Híbrido”. Esse sistema apresenta os princípios de combinações originárias de vários outros sistemas (como o Jaubert e o Berlin, por exemplo), acrescentando tecnologia (ex.:aparelhos eletrônicos) e antigos princípios, como as trocas de água. Normalmente esse tipo de sistema apresenta ótimos resultados e trazem bastante conforto ao aquarista moderno. Basicamente, é montado com: rochas vivas de boa qualidade; substrato de aragonita (sistema desnitrificador de fundo com ou sem a tela de separação, e/ou com ou sem plenum); um skimmer potente; luz forte (como HQI); ótima movimentação de água (uso de powerheads e bombas submersas). Entre as técnicas aplicadas à tais sistemas, como alternativa, estão: Surge Device; aparelhos eletrônicos para um controle das condições físicas da água; reatores de cálcio (de kalkwasser, ou de substrato com injeção de CO2); uso de carvão ativado; uso ou não de sump; emprego de ciclo lunar; uso de plantas como Mangroves, ditas como ajudantes na retirada de nutrientes (essa alternativa é de grande controvérsia atualmente e devería ser encarada e mais utilizada em aquários por estética, em sistema especialmente projetados, pois ainda existem contra-indicações quanto ao uso de Mangroves para sistemas fechados contendo organismos que floresçam em ambientes relativamente pobres em nutrientes, como a maioria dos corais de pólipos pequenos. Mangroves também tendem a amarelar a água do aquário mais rapidamente do que o normal e por isso necessita de cuidados especiais como: um processo de amadurecimento e equilíbrio com o sistema, podas constantes e prevenção de folhas amareladas caírem na água, além do uso monitorado de carvão ativado); etc.

De acordo com a evolução atual do hobby no mundo, esse método de filtragem não será a primeira nem a última das que serão descobertas, adicionadas e modificadas para conforto e melhor aproveitamento de ajuda da natureza em nossos aquários caseiros. Com certeza é um meio popular em muitos países e que quando bem construído, compreendido pelo aquarista, pode representar uma importante “ferramenta de trabalho”. O mais importante é que é um método simples, de baixo custo e eficiente para que possamos prover maior conforto aos habitantes de nossos sistemas. Lembre-se, praticamente tudo referente à aquarismo marinho de reef deve ser encarado como um processo à longo prazo e o Sistema de Jaubert com certeza não foge à essa regra. O final de amadurecimento em aquários de reef demoram normalmente cerca de 6 meses à 1 ano e meio em média para se completarem. Essa é a lei básica do reef kepping: calma!

© Copyright 2.000 Alex Correa.

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