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Este é o blog de Alex Correa e foi criado essencialmente como um centro de acesso aos trabalhos já publicados na lingua portuguesa, forma original.


Tuesday, March 15, 2011

Rocha viva artificial: construção e uso IV

Texto e fotos por Alex Correa.

Anteriormente foram colocados tópicos ecológicos, explicando as necessidades do aparecimento das rochas vivas artificiais no mercado aquarístico. Também foram discutidos os principais materiais normalmente indicados para a confecção das mesmas. Iremos nessa parte colocar em ênfase o planejamento do relevo, visando a distribuição e melhor aproveitamento de rochas vivas artificiais, tendo em vista os organismos em sistemas marinhos fechados. Também veremos o processo de fabricação das rochas vivas artificiais de uma forma prática.


Posicionar as rochas em ângulos estratégicos favorece a circulação de água e proporciona área livre para os peixes nadarem. Aquário display de aproximadamente 152 litros e rochas ocupando somente cerca de 30% de área.

Planejamento do relevo:
Criatividade para um relevo interessante e seguro deveria ser uma das metas primordiais dos aquaristas que pretendem fabricar suas rochas vivas artificiais. Aqui consta uma lista em resumo de algumas dicas auxiliares no planejamento:

• Imagine visualmente o relevo no aquário antes de planejar a estrutura das rochas.
• Tenha certeza de que as rochas poderão ser movidas no tanque display sem problemas de danificar as paredes do mesmo ou impedir a circulação de água apropriada aos organismos que irá manter no sistema.
• Rochas muito grandes em qualquer aquário apresentam riscos, principalmente pelo peso no final do processo de curtidura do concreto.
• O uso do aquário não é recomendável para curtir as rochas por causa das propriedades cáusticas do cimento, podendo deixar marcas nos vidros.
• Construa rochas tendo certeza de que caberão em recipientes plásticos com tamanho adequado para tais. As rochas precisam curtir completamente submersas na água.
• Evite colocar muitas rochas no aquário pois os peixes necessitam de espaços livres para nadar. Estruturas ocupando no máximo 40% do espaço em volume no tanque display seria um planejamento bem pensado.
• A área disponível ao crescimento dos invertebrados e peixes precisa estar no plano de montagem do sistema como prioridade.
• Se realmente houver necessidade de maior número de rochas pelas propriedades de filtragem, esteja preparando uma caixa de circulação (sump) para abrigá-las.
• Procure localizar a estrutura do relevo de forma à proporcionar o menor acúmulo de detritos possível. O planejamento da circulação de água do sistema precisam estar de acordo.
• Evite descançar as rochas nas paredes do tanque. Esteja certo de que haja acesso à todos os pontos do aquário para a retirada de detritos durante a manutenção.
• Buracos nas rochas mostram uma estética bem natural e auxilia na expansão de superfície de área ocupada pelas bactérias, mas cuidado para não comprometer a estrutura do relevo. Quanto mais buracos, maiores são as possibilidades de rachaduras e acidentes.
• Pequenos buracos para suporte de mudas de corais duros podem constar nas rochas estrategicamente desde sua fabricação. É sempre possível acrescentar novos buracos, de acordo com a necessidade, com o uso de furadeira.
• Construção das rochas contendo plástico ou PVC internamente, previnem possíveis rachaduras, evitando tragédias. No caso de canos de PVC devemos tomar um cuidado especial para evitar a evidência dos mesmos. Além disso, os canos precisam ser lixados e furados, como auxílio na adesão do concreto.
• Projeto de rochas vivas artificiais precisa ser visto como um plano a longo prazo.

O planejamento do aquário de recife precisa principalmente estar incluindo as espécies de organismos que serão colocadas no mesmo. Corais necessitam de espaço para desenvolver-se e formarem sua estrutura natural de acordo com o ambiente em que habita. Corais estão divididos basicamente em 2 grupos: os que apresentam esqueleto calcário (hexacorais ou “corais pétreos”, também subdivididos e chamados de SPS - Small Polyp Scleractinians ou LPS - Large Polyp Scleractinians), ou os sem esqueleto calcário (octocorais ou “corais moles”, também conhecidos como Octocorals).

Cada espécie de coral, independente de apresentar esqueleto calcário ou não, dependerá de diversos fatores básicos como: iluminação, circulação de água e espaço disponível para crescerem e se reproduzirem no aquário de recife. Existem alguns corais que crescem mais rapidamente que outros, e os que apresentam mecanismos de defesa e de avanço territorial, apresentando diferentes influências no relevo a longo prazo.

O aquarista precisa pesquisar e identificar as espécies corretamente para que tais planejamentos sejam eficazes. Portanto é nossa responsabilidade suprir as necessidades para que cada coral, seja colônia ou indivíduo, possa desenvolver-se no aquário. Espaço entre os corais é muito importante e também reflete de alguma forma na estética de um aquário amadurecido. Um sistema sadio e que apresenta um relevo parecido com o natural certamente diferencia dos que assemelham-se à prateleiras contendo “vasos de flores”. Portanto um dos fatores mais importantes desde o começo do planejamento é visualizar os organismos nas rochas e idealizar um preenchimento de espaço, levando em conta o crescimento. Como na maioria dos aspéctos em aquarismo recifal, decisões visando o futuro do sistema definem o sucesso.

A altura das rochas é outro ponto importantíssimo no que diz respeito ao relevo. Em sistemas contendo “acroporídeos” (gêneros: Acropora, Anacropora, e Astreopora), ou “pociloporídeos” (gêneros: Pocillopora, Seriatopora e Stylophora), por exemplo, existe uma necessidade grande de espaço sobre as rochas para desenvolvimento da estrutura calcária dos mesmos, com circulação de água livre e abundante, permitindo com que a luz seja bem distribuída.

A localização de powerheads no aquário display precisa ser bem planejada para que não venha a comprometer espécies de corais mais delicadas e que pouco apreciam forte correnteza, como por exemplo corais do gênero Euphyllia, Fungia, Halomitra, Heliofungia, Herpolitha, Cynarina, Caulastrea, Catalaphyllia, Trachyphyllia, Plerogyra, dentre outros. Tais corais são encontrados normalmente em lagoas recifais ou ambientes semelhantes, onde as correntes são inconstantes e relativamente fracas, sem impacto direto de força das ondas, em condições naturais normais.


Zoantídeos e corais moles podem ser fixados sobre as rochas com Super Glue Gel. A área do organismo destinada à cola precisa estar seca e livre de algas ou detritos. Basta então aplicarmos o mesmo sobre a rocha no aquário segurando-o por alguns segundos até que fique no lugar. É aconselhável desligar as bombas durante o processo, ligando-as logo após. O uso de epoxi não-tóxico à prova d´água pode ser usado para firmar as bases de corais duros. Tais produtos já podem ser encontrados no mercado aquarístico. Foto mostra aplicação de Super Glue Gel na base de Zoanthus sp.

Uma colocação de diferentes tipos de organismos no relevo, com a combinação das cores, também são qualidades de aquários bem projetados. Diferentes tamanhos e formatos de colônias de corais mostram um ambiente semelhante ao natural e certamente é apreciado. Alguns aquaristas fabricam suas rochas contendo buracos feitos com auxílio de furadeiras, para facilitar a colocação dos corais. O uso de cimento epoxi e Super Glue Gel também é de muito auxílio para fixarmos corais e zoantídeos (zoanthids) em qualquer local almejado, sem que a circulação de água ou mesmo outros organismos, como por exemplo caramujos ou peixes, venham a retirá-los acidentalmente do lugar.

O planejamento da iluminação do sistema não pode ser ignorado, assim como o tamanho do skimmer apropriado e sump (caixa de circulação de água), se o aquarista assim o desejar. O overflow pode muitas vezes ser escondido com rochas vivas artificiais, assim como powerheads e outros equipamentos, trazendo mais uma vantagem para com as possibilidades de formato e criatividade na construção do relevo.

Os tipos de combinações entre corais e peixes precisam constar no plano desde o início. Uma pesquisa quanto à compatibilidade de organismos é realmente a iniciativa mais sábia e importante que o aquarista possa tomar. A lista dos principais organismos que o aquarista pretende colocar no sistema como prioridade de gosto, pode ser definida durante o início do planejamento do relevo, sendo este apropriado à “biota” que entrará no sistema. Peixes que se alimentam de invertebrados diversos, logicamente não deveriam estar nessa lista, a não ser que tais invertebrados não constem como habitantes do sistema. Os peixes planctônicos necessitam de alimentação adequada para que exerçam suas funções fisiológicas e possam sobreviver por longos períodos de tempo em cativeiro, além de bastante espaço aberto para exercitarem, sendo que são os que normalmente demandam de maior atenção á esse respeito. O oferecimento de alimentação própria à cada peixe, afim de suprir suas necessidades básicas irá definir o mantimento sadio de cada espécie em particular. A maior parte dos organismos recifais alimentam-se várias vezes ao dia, quando não, constantemente. Os organismos herbívoros são auxiliares no controle de algas indesejáveis. Quando o sistema chega ao amadurecimento e a população de algas diminui com o equilíbrio dos nutrientes no sistema, o aquarista precisa oferecer alimentos à base de algas, preferivelmente marinhas. Por outro lado o excesso de alimentos prejudica o aquário com a introdução de nutrientes, como por exemplo fosfatos, acarretando em problemas sérios com algas indesejáveis. A administração de alimentos em aquários recifais requer uma atenção especial do aquarista, para que a importação e exportação desses nutrientes alcance um equilíbrio constante.

O planejamento da construção do relevo das rochas deve estar de acordo com as necessidades de locomoção e abrigo dos peixes. O tamanho individual atual de cada um deles e a taxa de crescimento das espécies, assim como o tamanho máximo que elas podem atingir, precisam
ser levados em conta. Um estudo sobre o ambiente natural de cada espécie ajuda muito na escolha para que o aquarista possa tentar reproduzir ao máximo as condições adequadas para cada uma delas, pensando também na compatibilidade e harmonia, com o espaço necessário, principalmente identificando as qualidades territoriais de cada espécie. A maioria dos peixes encontrados em recifes necessitam de crateras ou espaço entre as rochas vivas para abrigo noturno.


Relevo artificial proporciona uma infinidade de formatos e idéias. Com paciência e criatividade podemos fabricar rochas para esconder estrategicamente o overflow. Nesse caso, a altura da rocha em relação à superfície da água precisa ser cuidadosamente calculada para que não venha interferir no fluxo da água.

Todas as observações anteriores são básicas, mas importantes em qualquer aquário de reef, e logicamente também num aquário contendo rochas vivas naturais. A maior vantagem que temos na produção de rochas vivas artificiais é a de construirmos exatamente o que necessitamos para obter as qualidades almejadas no planejamento do relevo. Além disso, as probabilidades de introdução de organismos patogênicos e pestes são significantemente reduzidas com a seleção feita pelo aquarista cuidadoso.

Construção:
A seguir, uma das maneiras mais fáceis de se construir rochas vivas artificiais:


Materiais necessários para a fabricação caseira de rochas vivas artificiais.

Material:
• Areia calcária ou cascalho de coral.
• Aragonita.
• Cimento Portland Comum.
• Água.
• Colher de pedreiro.
• Recipiente de plástico onde a rocha será feita.
• Balde ou outro recipiente para misturar o cimento.
• Pulverizador de água.

Passos:


1. Colocar a areia calcária, ou o cascalho coralíneo no fundo da caixa. O substrato deveria estar úmido, de preferência.


2. Misturar 1 porção de cimento para 2 à 3 porções de aragonita num balde, adicionando pouca água, bem devagar e misturando alternadamente a ponto de formar uma massa com os grãos da aragonita relativamente soltos. Tenha certeza de que todo o cimento foi hidratado, com cuidado para não deixar pequenas áreas secas dentro da mistura. Atenção para não comprometer a massa de concreto, com excesso de água.


3. Aplicar partes da mistura sobre a areia úmida presente na caixa, formando a estrutura de base da rocha. Para rochas que serão colocadas no fundo do aquário, com o objetivo de base da estrutura do relevo, é aconselhável a formação de projeções semelhantes à pernas, com o objetivo de evitar a aglomeração de detritos.


4. Colocar areia nos lugares onde se pretende obter buracos na estrutura.


5. Aplicar mistura sobre a área dos buracos, mas garantindo os pontos de junção do cimento.


6. Cobrir a rocha completamente com areia, para que ela possa apresentar uma camada homogênea externa, com aparência bem semelhante à natural. A presença de grãos de calcário sobre toda a superfície da rocha também auxilia a estabilização inicial de vida sobre a rocha.


7. Pulverizar água moderadamente sobre a areia logo após a confecção da rocha, permitindo com que as gotas de água venham a embeber a estrutura de cimento situada dentro da areia, gradativamente. Essa prática ajuda o processo de solidificação do cimento. Aplicar a pulverização de água esporadicamente durante as primeiras 24 horas, mantendo a mistura úmida. O concreto alcança muito de sua resistência durante os 7 primeiros dias. Cobrir as rochas com plástico durante os 2 primeiros dias também evita perda excessiva de água através da evaporação. Evitar sol diretamente e vento forte. O propósito é permitir que a rocha fique somente úmida, não submersa.


8. Esperar no mínimo 24 horas para retirar a rocha da areia, podendo então continuar a curtidura, com a rocha totalmente submersa em recipiente contendo água doce. O processo leva no mínimo 60 dias, efetuando trocas de água completas, diariamente. O excesso de areia sobre a rochas é retirado facilmente com uma lavagem superficial rápida. É importante lembrar que a rocha ainda não está totalmente solidificada após 24 horas da mistura ter sido iniciada, ainda devendo ser manuseada com cuidado para que não aconteçam rachaduras, nem enfraquecimento das áreas de ligamentos mais frágeis.


Na parte 5 do seguimento dessa matéria estaremos analisando a curtidura (ou “cura”) do cimento, para seguramente introduzirmos as rochas vivas artificiais no aquário marinho. <><

Referências:
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http://www.abcp.org.br/home.shtml
Cement and concrete basics:
http://www.cement.org/basics/concretebasics_curing.asp
Guide for curing of Portland cement concrete pavements, Volume I:
http://www.fhwa.dot.gov/pavement/pccp/pubs/02099/02099.pdf
Curing concrete:
http://www.tkproduct.com/Curing%20Concrete.PDF
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http://www.tampabaysaltwater.com/index.html
Pacific Aqua Farms:
http://www.pacificaquafarms.com/AboutPAF.htm
Tom Miller: Reef propagation Project: The complete cookbook for making live rock from cement and other types of rock: http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Hangar/6279/RaiseCementRock.html
Geothermal Aquaculture Research Foundation:
Making an aragocrate™ arch cave, with Eddie Postma.
http://www.garf.org/MPegs/AragocreteArch.html
Randy Holmes-Farley, Ph.D.: Magnesium and strontium in limewater:
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Correa A. (1.999) Algas I: http://reefiofilianet.blogspot.com/2009/02/algas-i.html
Correa A. (1.999) Algas II: http://reefiofilianet.blogspot.com/2009/02/algas-ii-na-parte-i-foi-explicado.html
Correa A. (2.000): Rochas vivas no aquarismo e mais: http://reefiofilianet.blogspot.com/2009/02/rochas-vivas-no-aquarismo-e-mais.html
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Delbeek. C. & J. Sprung (1997): The Reef Aquarium, Vol. 2. Ricordea Publication, Miami, Florida, USA.
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Tissot, B.N. and L.E. Hallacher, 2003. Effects of aquarium collectors in Hawaiian coral reefs fishes in Kona, Hawaii. Conservation biology 17:1759-1768.
Shepherd A.R. Dawson, 1977. Marine Aquarist, volume 7, number 10. Collected in the Philippines.Marine Aquarist Publications, Inc, Boston, MA, USA.

© Copyright 2009 Alex Correa.